BLACKBIRD
"Com uma tal falta de literatura, como há hoje, que pode um homem génio fazer se não converter-se, ele só, em uma literatura? Com uma tal falta de gente coexistível, como há hoje, que pode um homem de sensibilidade fazer se não inventar os seus amigos, ou, quanto menos, os seus companheiros de espírito?" - Fernando António Nogueira Pessoa
16/10/2019
Carta amor para ti (Ele a Ela)
Carta ao meu amor maior (Ela para ele)
À morte dirás o meu nome;
Para que ela saiba sempre
A quem te trazer de volta...
À morte falarás do nosso amor;
Não para que ela nos inveje,
Mas para que te envolva
E te traga de volta, seguro a mim.
Nesses caminhos antigos de onde viemos,
À juventude fomos esquecidos
Por já sermos de há tempo demais.
Mas a mim que ninguém me minta;
Que exista hoje como igual,
Amor assim como o nosso!
Resistindo ao tempo,
Que no espaço nos tornará pó.
Mas em qualquer tempo,
Em qualquer espaço:
Alma apenas uma;
Nunca desencontrados...
21/12/2012
A beleza dos nossos olhos...
No outro dia sonhei contigo meu amor.
E com outras coisas
Vagas demais para serem lembranças.
Sonhei contigo e com a noção
De eu ser real para ti...
E tu existias mesmo
E eu existia para ti,
Existiamos um para o outro
Como unos.
Porque nos sonhos tudo existe
E nós tambem existimos;
Tenho quase a certeza que existimos!
Mesmo que só por aquele instante
Em que se dá o sonho.
Sonhei que eras bonita
Como eu sempre quis,
E ao mesmo tempo feia
Porque eu nunca soube como te queria.
Apenas te tinha
Como naqueles sonhos que eu tenho
Quando é de dia e eu estou acordado.
E do sonho;
Não me lembro de mais nada
Que senão de nós os dois.
E só isso me bastou...
E ainda basta.
Mas ao mesmo que me sorrias
E que me amavas
(Sim! Porque no sonho eu também fui amado.)
Mais bela tu ficavas
Aos olhos que eu tinha de ver,
No sonho que eu tive
Quando era de noite.
E demos as mãos
E dançamos
E fizemos tudo só nessa noite.
Porque agora que já não estou a sonhar
Mal me recordo desse sonho,
Mas tenho quase a certeza
Que fizemos de tudo,
Das coisas que eu quero fazer
Sempre que tenho outros sonhos acordado!
Porque eu já sabia
Que não mais sonharia
Contigo outra vez.
E agora que estou acordado,
E que é de noite,
E que escrevo o meu sonho
Porque tenho a esperança
De ter o sonho
Que tive da outra vez em que sonhei;
Espero sonhar-te outra vez.
Assim feia e bela ao mesmo tempo.
Porque essa beleza
Que tu tiveste no meu sonho,
Que só foi bonito para mim;
Estava nos meus olhos
E nos teus olhos que olhavam para mim...
E éramos os dois bonitos
Um para o outro
E para mais ninguém.
Porque a nossa beleza
Estava na beleza dos nossos olhos
A olharem um para o outro.
27/11/2012
Passei a vida inteira a esconder-me
28/09/2012
(Tu rimas com Alquimia)
25/01/2011
Prostituta.
São cinco da manhã. Mas tu ainda não chegaste a casa...
Estou deitado no sofá, adormeci a ver um filme qualquer enquanto esperava por ti. São coisas dessa tua vida, são coisas dessa tua profissão? Que demora é essa que já me dói no coração? Olho o relógio mais uma vez. Começo a ficar preocupado...há tempos que já devias ter chegado. O que será feito de ti?
Levanto-me lentamente, sacudo as pipocas da camisola, apanho o cobertor vermelho que também esperou por ti, coço a cabeça e vou à casa de banho, esse caminho parece tão mais longe do que o costume; tudo fica tão longe de mim quando tu não estás. Será porque és tu o meu mundo?
Acabei o tinha a fazer; o relógio bate cinco e vinte, e tu sem aparecer. Começo a pensar que algo te aconteceu, é a primeira vez que te atrasas dessa maneira para mim. Olho para o tecto e permaneço assim... sem ti tudo parece como o tecto, tudo tão branco e vazio, sem princípio e sem fim...
Ouço a chave a rodar na fechadura; e sei que vens aí. A terra começa a tremer, ou sou só eu por dentro na excitação de te ver. Abres a porta apoiada na parede. Vens estafada, descalça e saltos na mão, dás passos cuidados, oscilando de um lado para o outro, parece que vais cair, mas não cais... Olho atentamente para ti, vens descomposta; mais do que é habitual. A maquilhagem está suja, o batom esborratado; as roupas quase não se seguram e tens o sutiã rasgado. O teu casaco está ensopado de lama e chuva, tens o cabelo molhado, todo emaranhado em laca barata; as tuas meias de renda estão esfarrapadas e tens os pés corados e feridos.
Amparo-te a queda, sento-te no sofá, vou buscar-te um whisky com gelo que bebes num só trago; cospes as pedras de gelo e colocas sobre o peito, resfrias o mamilo e gemes de dor:
– Hoje apanhei um daqueles porcos que gosta de os chupar! Estúpidos, idiotas cabrões... – E sofres mais um pouco essa tua dor.
Olhas para mim, com um olhar furioso; eu sorriu-te e logo mudas a expressão...
Abraças-me e olhas novamente bem para mim; desta vez com esse olhar meigo que sempre me cativou desde a primeira vez. Mordes os lábios... Primeiro os teus, e logo depois os meus, num beijo esperado há tempo demais... Sei que a noite foi difícil, como sempre o é; mas tu sabes que eu estou sempre aqui.
É como se me lesses os pensamentos, e logo dizes:
- Estava ansiosa para voltar para ti! O último cliente parece sempre mais difícil, o tempo fica mais demasiado lento e nunca quer passar...
Pões a mão na saia, deixas cair as pedras de gelo quase derretidas e sopras de alivio... Tiro-te devagar o sutiã rasgado, e deito-o para o meio do chão. Admiras-me aliviada pelo que fiz; olhas para dentro dos meus olhos e sorris. Desde sempre foste a única mulher que alguma vez conseguiu olhar assim para mim, desde sempre que conseguiste olhar-me bem no fundo de mim e descobrir nesse emaranhado de sombras, alquimias e mistérios; o ser que verdadeiramente compõe...
Dispo-te carinhosamente a blusa manchada de suor deixando-te a pele nua; a temperatura sobe quase louca e despes-me a camisola num impulso natural. Cravas-me as unhas nas costas, envolves as tuas pernas na minha cintura e agarras-me os cabelos, beijando-me num encaixe quase perfeito e ancestral. Sinto o teu peito roçar no meu peito, abraças-me forte e sinto bem de perto a bater o coração. Agora tudo faz sentido... A espera, a preocupação, eu, tu, o mundo. Perto de ti tudo faz sentido
Afasta-te um pouco e despes as meias num gesto demasiado sensual, levantas-te do sofá, deixas cair a saia e chamas por mim com um só dedo. Eu levanto-me e vou atrás de ti, tentas fugir como num jogo de inocente de criança, mas eu agarro-te pela mão, puxo-te para mim e descubro o teu corpo com as minhas mãos. Percorro as tuas curvas e fico perdido... Os teus lábios logo me trazem outra vez, para esse mundo que descubro seres para mim...
Vamos lentamente enrolados como numa dança em direcção ao quarto ainda escuro, iluminado apenas pelo fraco raiar do sol. Agarro-te as coxas das pernas e levanto o teu corpo, ando mais um pouco e sento-te sobre a mesa de madeira perto da porta, as molduras caem, os perfumes tropeçam e de repente empurras-me para a cama, caio inebriado a olhar para ti e voltas a sorrir-me, mordes novamente o lábio inferior, olhas para o lado e colocas a tua mão sobre um dos meus frascos de perfume... Desenroscas a tampa devagar enquanto me olhas com esse olhar malandro que aprendeste a fazer nesse teu ofício, derramas esse perfume pelo pescoço. Acompanho com deleite esse trilho que as gotas tomam para te percorrer... Vejo a tua pele arrebitar com o frio das gotas ou apenas de excitação... As gotas vão descendo até que começam a humedecer essa tua tanga de renda vermelha, levantas-te da mesa e começas numa lenta dança quente a tirá-la suavemente.
(Este texto encontra-se em construção, por conseguinte, a parte acima apresentada porderá sofrer alterações. Se quiser comente ou sugira alterações. obrigado pela disponibilidade.)
01/08/2010
Heterónimos
Eu sou tu… tu és nós… Tu és nada mas nós somos tudo. Juntos, somos simplesmente o que quisermos ser…sem nunca nos comprometermos a ser coisa alguma!
Somos a realidade tua, nossa, sem dor e sem mágoa! …
— O meu nome é Álvaro Campos, o operário.
Este é Ricardo Reis, o frio monarca.
— E eu sou o mestre pastor; Alberto Caeiro!
Unidos somos Fernando António Nogueira Pessoa…
Vários mundos…
Universos inacabáveis…
Uma só loucura!
Eu, tu, ele, nós!
Todos…
Tantos, e afinal apenas um só.
Um só louco no nevoeiro…
Um "Super-Camões".
15/05/2010
Era uma vez um monstro que amou uma boneca de trapos...
03/03/2010
A lágrima que eu já não sei chorar...
Se eu pudesse deixar um segundo
Fazer uma pausa e esconder-me…
Atrás desse meu fato
De corvo sem existência!
Ensina a amar que eu não sei mais
Ensina-me a ser eu
Que eu já não me lembro como era…
Ensina-me a viver;
Que eu perdi o rumo
E já não tenho máscaras onde me esconder…
Ensina-me a gritar
Que o mundo já não me ouve…
E hoje eu sou surdo!
Ensina-me a deixar escorrer no rosto
A lágrima que eu também já não sei chorar…
E ensina-me a sorrir
O doce gosto de abrir uma boca sem dentes;
E brilhar…
Ensina-me a ser feliz
Que eu já não sei fingir a felicidade.
Ensina-me onde fica a realidade
Que eu perdi-a na mesma rua
Onde me perdi a mim mesmo.
Eu já não sei nada,
E nada sei sobre nada!
“Eu só sei que nada sei”
Porque nunca soube saber
Aquilo que devia ter sabido
Para saber aquilo que agora sei!
E ao fim de já nem sei o que escrevi;
Porque afinal eu não sei escrever;
E porque isto não passa de um mero ensinamento;
A precisar de um professor que nem sequer ensina!
I Love you! (um hino aos que amam; porque eu não sei!)
02/03/2010
Carta de Blackbird
A carta… (Blackbird a Tiago)
Idiota!
Achas mesmo que alguém te amará um dia?
Deixa-te de ilusões!
Ficarás sempre só!
A vida inteira,
Dia sobre dia;
Noite sobre noite…
A chuva cairá lentamente
Sobre o teu velho e triste coração.
Como pode um coração vazio
Pesar o mesmo que um mundo?
Será sempre assim,
De cabeça triste e olhar carregado
De mágoa por dentro da camisola
Virás do trabalho para casa;
Da solidão para a solidão;
Da tristeza para mim…
Mas basta!
Estou farto de ser eu a sofrer por ti!
Homem idiota!
(Se é, agora entre nós,
Que te podemos chamar Homem.
Eterna criança tu!
Preso no tempo;
À espera que se mude o futuro…)
Deixa-te de viver no passado
À espera que o futuro mude!
Para poderes ser feliz neste presente
Morreu… acabou!
Nada podes fazer agora…
Vives nesse teu mundo,
Essa essência onde me criaste…
E escreves,
Sobre tudo o que aconteceu na tua vida;
Ou o nada que ela é...
E amor?
Escreves sobre algo que não sabes o que é?
(Esta tenho de aplaudir de pé!
És um génio!
Aquele que sempre te consideraste ser…
Ou louco apenas!
Aquilo que outros viram crescer…)
Deixa-te ilusões,
De imaginar beijos que nunca aconteceram
“Alma com alma” leste num livro.
*(Risos)
Tolo! Idiota!
Isso não passa de imaginação!
De eterna e triste ilusão!
Como essa que tens,
De alguém te amar…
Ninguém te ama e jamais o farão!
Ninguém quer ser visto com um cromo como tu!
(“Cromo” – Lembraste de como te chamam
Aqueles que se riam das tuas piadas?
Eles só se riram de uma única piada tua…
A tua vida! A tua miserável existência!)
Desiste… o amor não existe
Eu sou pura ilusão,
Loucura no teu coração…
Aqui te deixo as minhas palavras…
Para que deixes de fingir.
E perceberes o miserável
Que verdadeiramente és!
Com amor:
Blackbird (o teu único amor…)