"Com uma tal falta de literatura, como há hoje, que pode um homem génio fazer se não converter-se, ele só, em uma literatura? Com uma tal falta de gente coexistível, como há hoje, que pode um homem de sensibilidade fazer se não inventar os seus amigos, ou, quanto menos, os seus companheiros de espírito?" - Fernando António Nogueira Pessoa
08/12/2008
A Noite de 03-01-2007… (Um pesadelo para sempre…)
Dormes sobre uma almofada,
A mesma de todos os dias;
Numa noite igual às outras anteriores
No mesmo quarto,
De brancas, pálidas paredes.
As paredes sem expressão
Mas cheias de sonhos
Sonhos de inocência infantil...
Os mesmos sonhos, que sem saberes;
Te seriam roubados para sempre...
Nessa noite em que os olhos previram,
Que a luz da sua faísca
Iria para sempre desaparecer
Aquela inocência com que diziam,
Boa noite...
Quando adormeceste sem saber o dia seguinte,
Desejavas acordar,
Para ver o sol de amanhã...
Agora olhas para trás,
E desejas ter ficado a dormir;
Apenas para sempre...
Porque assim o pesadelo;
Apenas seria isso:
Um pesadelo!
Que se desfaria com o raiar da luz...
Acordas-te em sobressalto,
Acordaram-te...
Mais cedo do que deverias acordar.
Abres os olhos com lentidão;
Como quem não os quer abrir para a escuridão...
Depois de abertos, sabes que algo mudou
Algo está diferente na tua vida;
Ainda tens alma e coração,
Mas preferias não ter;
Para não sofrer!
Sobre ti está debruçado o teu sangue
O teu irmão está diante ti:
“ – Ele está no hospital,
Está na unidade de cuidados intensivos...”
Levantas-te e procuras o caminho
Para lugar nenhum, apenas queres fugir...
Voltas a enfiar-te na cama;
Como se os transparentes lençóis
Te protegessem do mundo inteiro;
Como se os lençóis tapassem a realidade,
E abafassem os gritos de ti!
Pensas o pior, mas rezas o melhor...
Voltas a fechar os olhos como uma criança fecha;
Escondes-te do mundo;
Para que não saibam que sofres...
Para que não saibam que choras...
Para que não saibam que existes...
Enganas-te fingindo dormir
Para que possas acordar e fingir;
Que tudo apenas foi pesadelo...
Mas sabes que é real,
Mais real do que desejarias.
Abres os olhos outra vez,
Deitando ao céu em que não acreditas
Mais uma tola e inútil prece:
“ – Que volte bem e sorrindo!...”
Ilusões que o coração tece
Pois surge-te uma sombra do teu sangue
Rompante entrando pelo quarto,
É o outro irmão, o mais velho;
Deslavado e despedaçado por entre lágrimas;
Como nunca o traçaste...
Por entre as dúvidas e revolta,
Sabes o que aconteceu...
O chão perdesse.
O céu desaparece.
A realidade torna-se opaca e confusa.
Fechas os olhos...
Estás de volta ao frio e triste quarto
A porta fechasse e olhas para ela.
Foi um pesadelo!
Mas não queres abrir a porta...
Não queres saber:
Se pesadelo?
Se realidade?
Mas...porque choras?...
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1 comentário:
Lindíssimo este poema...
Triste, mas belo.
Gostei muito. Bjo doce,
Fátima
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