"Com uma tal falta de literatura, como há hoje, que pode um homem génio fazer se não converter-se, ele só, em uma literatura? Com uma tal falta de gente coexistível, como há hoje, que pode um homem de sensibilidade fazer se não inventar os seus amigos, ou, quanto menos, os seus companheiros de espírito?" - Fernando António Nogueira Pessoa
04/07/2009
Poema de um ninguém com Paralisia Cerebral
Encerrado num corpo velho e já sem vida
Contam-se a horas minuciosamente
Vê-se a vida escoar por entre os dedos
Que não conseguem mexer.
As lágrimas que não caiem
E a dor;
Essa que é pura
Como a fé que já se perde…
A esperança torna-se vaga;
E vai sendo consumida pela batalha dos anos vazios
A vida passa como se fosse eternidade…
Ano sobre ano e tudo é estanque!
A raça humana tem dois extremos:
Nascer perfeito,
Ou nem sequer imaginar nascer!
Olhando de um casulo a que apelidamos de: corpo
Vemos quem nos ama,
Ser gasto pelo tempo incorruptível
E enquanto cuida de nós
Rasga no rosto um sorriso vago,
Enquanto nos olhos se cai a esperança.
A vaga esperança depositada
No gesto que demora em chegar…
Olhos nos olhos e lê-se o desespero sair!
Olhos nos olhos e lê-se o medo penetrar!
O sorriso perdura estampado,
Como um candeeiro que nunca apaga
Num universo longínquo e escuro...
O obrigado não sai e as palavras ressoam na cabeça:
“Os médicos dizem que um dia irás falar…”
Anseia-se a chegada dos dias seguintes;
Pois a memórias começa a falhar,
E esqueces que as batalhas são diárias;
Tic-tac, tic-tac…
E relógio passa os segundos com sabor a anos.
Tic-tac, tic-tac…
Cai a esperança com a mente.
Tic-tac, tic-tac…
E no dia de falar diz-se: Obrigado!
Tic-tac, tic-tac…
E o dia de morrer
Passa mais breve que a vida;
De quem vendo o relógio andar, sofreu parado…
Tic-tac, tic-tac, tic-tac…tic-tac!
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