30/01/2009

O Quarto!...





Assim será sempre!...
Sempre o mesmo quarto frio e solitário!
A mesma humidade escura
Incrustada na mesma gélida parede branca
Sempre e sempre os sussurros;
Vozes feitas de silêncio
Que nada dizem
Contando a história de ninguém…
O mesmo choro carregado de solidão
Preso nas paredes já com musgo…
Também existe a estante de madeira podre;
Livros amarelos e já gastos pelo tempo que morreu,
Simetricamente arrumados da mesma maneira de sempre!
(Nunca ninguém se deu ao trabalho de os ler
E de os descobrir em muitas versões…)
A estante que acumula o pó dos anos nus.
Ao lado a mesma televisão velha
Com a mesma imagem feita de serenidade negra.
(A televisão faz-se branca do ódio dos anos!)
Majestosamente erguido na parede
O monstruoso guarda-fatos
Imperialmente alçado em jeito de gigante Adamastor
É o rei de tudo onde afinal não há nada!

Ao fundo uma porta fechada
(Como sempre esteve ao correr dos anos!)
Com a sua típica rispidez de madeira crua...
E que em segredos esconde este mundo!...

De rodas presas no soalho
A enfadonha cadeira com cheiro a mofo.
(Dizem que em cima dela repousa o tempo!)
Na secretária ao pé da cadeira
O mesmo caderno de capa preta entreaberto
Nele leem-se algumas palavras
Que o tempo com pena não quis consumir...
(Parece que lá vivem memórias de outros tempos!)
As páginas vão dançando enquanto o vento as lê!...
Numa ordem aleatória de uma maneira qualquer,
Completamente desordenada e sem sentido!
A janela aberta vai deixando entrar o ar que sufoca!
No alto da secretária, lá bem em cima;
Há uma estranha moldura;
Com as fotografias de umas pessoas quais queres…
(E talvez algumas lembranças!)
Lá bem em baixo,
Ao pé de caixote do lixo com cinzas em decomposição;
O cotão deambula pelo chão gasto.
(Que já tão bem conhece!)
Depois no meio da parede,
Opostamente ao guarda-fatos
Há uma grande cama de casal
Mas pequena na humildade que transborda
A cama está encolhida a um canto
(Como se tivesse vergonha do que veste!)
Aqueles lençóis cheios de sujidade arranhada
Parecendo cochichar com a mesma mancha de sangue seco
Que vai apodrecendo com o tempo…
(Parece que alguém morreu aqui um dia!)

Assim se sentem os sonhos
Entre uma porta trancada
E o castigar do vento numa janela aberta…
(Alguém os deixou um dia perdidos!)
Neste quarto vazio e sem nada!
O quarto de ninguém!...
Sempre foi assim...
Este triste quarto onde um dia vivi;
E onde um dia me morri...
Assim será sempre!...

29/01/2009

O circo de ninguém...





Já ninguém vai ao circo
Ver deixar numa corda a vida.
E assim em mim comtemplando fico
Errante lamentando tradição perdida...

Já ninguém vai, já ninguém acredita;
Na jaula feras e um domanor
Ou os saltos do trapezista.
Ele domina, ele salta; é o Empreendedor!

Não se quer saber do equilibrista.
Todos equilibram agora
Todos são o artista
Equilibrando a já tão contada hora...

O mágico oculta segredos na cartola.
A sociedade, apenas palhaços à estalada
Todos de pescoço na ponti-mola.
Todos falam, ninguém sabe nada!

Entre palmas e gritos de um mundo
(Porque nunca ninguém lá entrou)
Encerra-se o circo mudoTodos apontam ninguém se acusa do mundo que desabou

14/01/2009

Homenagem a Fernando Pessoa: "Quem sou?"


Quem sou…

Quem sou?

Não sei!

Talvez seja este

Ou aquele,

Que não sabe;

Que este é aquele

Que quer ser ele próprio…

12/01/2009

Palavras no ar...


Desenhei no ar o teu nome
Pintei-o de azul céu…
Estendi os braços e aconcheguei-o
Soprei bem do fundo do pulmões…
Fuuuuuuuuu!!!!
E lá foi voando
O teu nome pelos céus…
E junto do teu nome,
Bem lá no canto
Deixei uma pequena mensagem…
(Sem ti um mundo fica incompleto,
Os dias são cinzentos e falta a luz…
Contigo o mundo é lugar ideal!
Amo-te…)

06/01/2009

Driven Under II

Do nascimento até morrer;
Sempre mentir é condição
Querendo sem querer,
Nascer e morrer é ilusão
A mentira empurrar-me-á para baixo de mim
Soterrado sempre assim;
Numa folha de papel será mentido o meu fim...