05/01/2010

Roubarei o tempo por ti...

Trarei em mim o tempo roubado,
Para que fiquemos eternamente presos neste momento...

03/01/2010

Pai

Ainda hoje quero o teu perdão!
Passaram apenas tres anos
Mas foi uma eternidade...
Jamais te esqueço!
Desculpa os erros que cometi
os que cometo
e os que cometerei
Sempre me orgulhei de ti
Mas nunca to disse verdadeiramente.
Amo-te


Porque só damos o valor às pessoas quando não as temos?!

02/01/2010

Infância em olhos azuis

Esperar-te-ei a vida inteira
Para te ter apenas um segundo!...

Onde quer que estejas...
Trás contigo o meu coração,
Maria;
Primeira e eterna unica!

Todas iguais a ti! Nenhuma parecida contigo!
Aparece agora,
Ou será tarde demais!

"A TERCEIRA ROSA"


1

(Os anos passarão. Os canteiros hão-de gerar um outro buxo. Outros pássaros virão cantar nos ramos altos do pinheiro manso e dos plátanos. A tia morrerá. E a casa e o jardim, a própria vila, suas rotinas, seus ritmos e seus ecos. Não ficará senão a tua voz na tarde calma. Olá, disseste. E a terra começou a tremer.)

Manuel Alegre in "A TERCEIRA ROSA"

Inverno do mundo!



Lá fora está frio!
Está frio lá fora
E há o mundo!

Cá dentro?
Cá dentro não está calor nem frio
Cá dentro tudo é tão incompleto
Nada existe e nada se deixa existir
Cá dentro está o vazio…
É lá fora?
É lá fora que existe o mundo
Existe o amor e o sonho e o frio
Pois cá dentro é rei;
Senhor! O vazio!
É juiz é carrasco
E reina a sua lei.

Lá fora está o mundo!
Estão os olhares o julgamento e a vergonha!
Aqui;
Tudo é incerto
Aqui não há mundo;
Há Universo!
Aqui há o princípio!
E há o fim!
O princípio do fim…
Talvez apenas um vasto deserto
Onde as areias do tempo
Absorvem o já imerso;
Ser que houve em mim…

E eu?
Onde estou eu?...

01/01/2010

O Rapto...

“Tenho medo do mundo…” Disseste-me um dia… Agora finalmente compreendo e também eu tenho medo. Medo do mundo, medo de te ter perdido para o mundo, medo de me ter perdido no mundo, ou de ter perdido o meu mundo…
Sempre foi esse o teu medo. Medo que o mundo fosse em ti e que não tu a ser o mundo. Porque, tu sempre foste um mundo inteiro! Um mundo estranho e desconhecido… Um mundo em que eu me perdia e me reencontrava, em que eu adormecia e acordava, em que eu era e não era; em que eu era muitos e não era nenhum…
Sempre foste a minha Alquimia, a minha Pedra filosofal. Esse mistério profundo e ancestral… Essa vida da morte… Esse sentido sem rumo. És o mistério dos meus mistérios… O medo dos meus medos…
Sempre foste estranha para mim. A minha estranha familiaridade.
Eras tu, como eras, depois eras outra pessoa… Estavas e já não estavas. Eras e já não eras…Ora me amavas, ora me desprezavas. E Era isso que me prendia a ti, Um mistério num mistério… Um medo feito de medo.
Agora que te perdi já nem sei quem sou … Já nem sei nada, já não temo nada, já não sou nada… Agora já nem sei se tu ainda és quem eras, ou o que eras… Não sei onde estás. Desapareceste assim sem dizer nada, de um momento para o outro. Sem um gesto ou palavra de despedida
Sei que estás por ai algures. Perdida, talvez… Perdida no mundo ou perdida em ti mesma. Se calhar foi o mundo. O mundo raptou-te! Agora és igual. Igual ao mundo que sempre temeste…
Às vezes vejo-te na rua, mas tu já não és tu! Vejo-te a passar, com esses teus novos amigos desse teu novo mundo… Desse “mundo igual”. Igual ao mundo que temias! Talvez tenhas sido sempre assim… Talvez tenhas sido sempre apenas uma. Uma igual a ti mesma. Uma só e apenas…
Essas muitas tu, não passaram de imaginações minhas para nunca ver realmente quem eras, ou no que te estavas a tornar. Se calhar foste sempre assim e para mim ao mesmo tempo diferente…
“Tenho medo do mundo…abraça-me. Protege-me!” Talvez nunca quisesses que eu te protegesse do mundo… Talvez nunca quisesses que eu te abraçasse realmente. Talvez nunca tenhas tido medo do mundo! Tinhas era medo de ti mesma, medo daquilo que sabias que eras. Querias que eu te prendesse e não te deixasse escapar, não que te abraçasse. Querias que te protegesse de ti mesma, daquilo que sabias que verdadeiramente eras.
Não era o mundo que temias… Temias-te a ti mesma!
Querias-me porque sabias que comigo serias todas menos tu! Comigo eras diferente, não eras essa que sempre foste, eras outras diferentes! Eras todas menos tu…
Era por isso que me amavas… Sempre portei essa ignorância que querias. Esse meu ver do bem no mal… Agora que o mundo te raptou e a ele pertences, já não precisas de mim… Já podes ser tu mesma… aquela que sempre fostes… Tu!
O mundo raptou-te, e contigo foi o meu mundo… o meu medo… todo esse mistério! És e sempre serás o meu mistério, o meu medo… o meu mundo… e sem ti já nada sou…

O mundo raptou-te e eu tudo sou!
Tudo… menos o mundo!...

“ – É dos poetas!”



“ – É dos poetas!”
Dizem…
“ – É dos poetas!”
E não é a imaginação…
“ – É dos poetas!”
Está-lhes nos coração,
E é solidão!

“ – É dos poetas!”
Dizem…
Por mais que fuja e se esconda;
Por mais que percorra o espaço
E engane o tempo,
Por mais que se rodei do mundo;
O poeta será sempre só!
Uma alma errante vagueando…
Procurando algo…
Inexistente talvez…
A felicidade?

“ – É dos poetas!”
Dizem…
É dos poetas e não é o mundo!
Não é dos poetas nem será de ninguém
Porque o mundo não é de ninguém
E é dos poetas!
Mas não o mundo real,
Porque esse não é de ninguém;
Mas o mundo do poeta…
O mundo que ele gira
E cria em torno de si mesmo,
E onde se inventa e reinventa
Em milhares de eu’s…
Nunca sendo verdadeiramente seu dono.

“ – É dos poetas!”
Dizem…
“ – Deve ser doença…
… Algum vírus que por aí anda!
Como esses que se apanham nas esquinas
Ou nos cafés das ruas escuras de Lisboa,”
“ – Tem cuidado com essa cadeira!
Ontem esteve aí sentado um poeta a escrever…
Tens de ter cuidado ou ainda ficas como um deles!
Dizendo coisas ao ar,
Olhando as nuvens…
…Ou pior!
Ainda te pões a dar significado às coisas!...”

“ – É dos poetas!”
Dizem…
A mania de inventar palavras;
De dar um sentido a tudo!
De encontrar uma métrica qualquer,
Que traduza todas as situações…
Que mania essa dos poetas
De se acharem capazes de tudo!
Dizem-se inventores?!
“ – Os grandes inventores para mim,
São os das Igrejas!”
(“ – Sabes, diz-se por aí
Que os poetas vieram de fora,
De um país qualquer lá do estrangeiro…”)

“ – É dos poetas!”
Dizem…
A escuridão,
O silêncio,
A Solidão,
O oculto,
O vazio,
O pensamento,
As palavra,
O coração…
…A morte!
(“Bem essa é de todos!”)

“ – É dos poetas!”
Não dizem…
Mas sabem…
“ – É dos poetas!”

“ – É dos poetas o esquecimento!”