01/01/2010

O Rapto...

“Tenho medo do mundo…” Disseste-me um dia… Agora finalmente compreendo e também eu tenho medo. Medo do mundo, medo de te ter perdido para o mundo, medo de me ter perdido no mundo, ou de ter perdido o meu mundo…
Sempre foi esse o teu medo. Medo que o mundo fosse em ti e que não tu a ser o mundo. Porque, tu sempre foste um mundo inteiro! Um mundo estranho e desconhecido… Um mundo em que eu me perdia e me reencontrava, em que eu adormecia e acordava, em que eu era e não era; em que eu era muitos e não era nenhum…
Sempre foste a minha Alquimia, a minha Pedra filosofal. Esse mistério profundo e ancestral… Essa vida da morte… Esse sentido sem rumo. És o mistério dos meus mistérios… O medo dos meus medos…
Sempre foste estranha para mim. A minha estranha familiaridade.
Eras tu, como eras, depois eras outra pessoa… Estavas e já não estavas. Eras e já não eras…Ora me amavas, ora me desprezavas. E Era isso que me prendia a ti, Um mistério num mistério… Um medo feito de medo.
Agora que te perdi já nem sei quem sou … Já nem sei nada, já não temo nada, já não sou nada… Agora já nem sei se tu ainda és quem eras, ou o que eras… Não sei onde estás. Desapareceste assim sem dizer nada, de um momento para o outro. Sem um gesto ou palavra de despedida
Sei que estás por ai algures. Perdida, talvez… Perdida no mundo ou perdida em ti mesma. Se calhar foi o mundo. O mundo raptou-te! Agora és igual. Igual ao mundo que sempre temeste…
Às vezes vejo-te na rua, mas tu já não és tu! Vejo-te a passar, com esses teus novos amigos desse teu novo mundo… Desse “mundo igual”. Igual ao mundo que temias! Talvez tenhas sido sempre assim… Talvez tenhas sido sempre apenas uma. Uma igual a ti mesma. Uma só e apenas…
Essas muitas tu, não passaram de imaginações minhas para nunca ver realmente quem eras, ou no que te estavas a tornar. Se calhar foste sempre assim e para mim ao mesmo tempo diferente…
“Tenho medo do mundo…abraça-me. Protege-me!” Talvez nunca quisesses que eu te protegesse do mundo… Talvez nunca quisesses que eu te abraçasse realmente. Talvez nunca tenhas tido medo do mundo! Tinhas era medo de ti mesma, medo daquilo que sabias que eras. Querias que eu te prendesse e não te deixasse escapar, não que te abraçasse. Querias que te protegesse de ti mesma, daquilo que sabias que verdadeiramente eras.
Não era o mundo que temias… Temias-te a ti mesma!
Querias-me porque sabias que comigo serias todas menos tu! Comigo eras diferente, não eras essa que sempre foste, eras outras diferentes! Eras todas menos tu…
Era por isso que me amavas… Sempre portei essa ignorância que querias. Esse meu ver do bem no mal… Agora que o mundo te raptou e a ele pertences, já não precisas de mim… Já podes ser tu mesma… aquela que sempre fostes… Tu!
O mundo raptou-te, e contigo foi o meu mundo… o meu medo… todo esse mistério! És e sempre serás o meu mistério, o meu medo… o meu mundo… e sem ti já nada sou…

O mundo raptou-te e eu tudo sou!
Tudo… menos o mundo!...

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