25/01/2011

Prostituta.




São cinco da manhã. Mas tu ainda não chegaste a casa...
Estou deitado no sofá, adormeci a ver um filme qualquer enquanto esperava por ti. São coisas dessa tua vida, são coisas dessa tua profissão? Que demora é essa que já me dói no coração? Olho o relógio mais uma vez. Começo a ficar preocupado...há tempos que já devias ter chegado. O que será feito de ti?
Levanto-me lentamente, sacudo as pipocas da camisola, apanho o cobertor vermelho que também esperou por ti, coço a cabeça e vou à casa de banho, esse caminho parece tão mais longe do que o costume; tudo fica tão longe de mim quando tu não estás. Será porque és tu o meu mundo?
Acabei o tinha a fazer; o relógio bate cinco e vinte, e tu sem aparecer. Começo a pensar que algo te aconteceu, é a primeira vez que te atrasas dessa maneira para mim. Olho para o tecto e permaneço assim... sem ti tudo parece como o tecto, tudo tão branco e vazio, sem princípio e sem fim...
Ouço a chave a rodar na fechadura; e sei que vens aí. A terra começa a tremer, ou sou só eu por dentro na excitação de te ver. Abres a porta apoiada na parede. Vens estafada, descalça e saltos na mão, dás passos cuidados, oscilando de um lado para o outro, parece que vais cair, mas não cais... Olho atentamente para ti, vens descomposta; mais do que é habitual. A maquilhagem está suja, o batom esborratado; as roupas quase não se seguram e tens o sutiã rasgado. O teu casaco está ensopado de lama e chuva, tens o cabelo molhado, todo emaranhado em laca barata; as tuas meias de renda estão esfarrapadas e tens os pés corados e feridos.
Amparo-te a queda, sento-te no sofá, vou buscar-te um whisky com gelo que bebes num só trago; cospes as pedras de gelo e colocas sobre o peito, resfrias o mamilo e gemes de dor:
– Hoje apanhei um daqueles porcos que gosta de os chupar! Estúpidos, idiotas cabrões... – E sofres mais um pouco essa tua dor.
Olhas para mim, com um olhar furioso; eu sorriu-te e logo mudas a expressão...
Abraças-me e olhas novamente bem para mim; desta vez com esse olhar meigo que sempre me cativou desde a primeira vez. Mordes os lábios... Primeiro os teus, e logo depois os meus, num beijo esperado há tempo demais... Sei que a noite foi difícil, como sempre o é; mas tu sabes que eu estou sempre aqui.
É como se me lesses os pensamentos, e logo dizes:
- Estava ansiosa para voltar para ti! O último cliente parece sempre mais difícil, o tempo fica mais demasiado lento e nunca quer passar...
Pões a mão na saia, deixas cair as pedras de gelo quase derretidas e sopras de alivio... Tiro-te devagar o sutiã rasgado, e deito-o para o meio do chão. Admiras-me aliviada pelo que fiz; olhas para dentro dos meus olhos e sorris. Desde sempre foste a única mulher que alguma vez conseguiu olhar assim para mim, desde sempre que conseguiste olhar-me bem no fundo de mim e descobrir nesse emaranhado de sombras, alquimias e mistérios; o ser que verdadeiramente compõe...
Dispo-te carinhosamente a blusa manchada de suor deixando-te a pele nua; a temperatura sobe quase louca e despes-me a camisola num impulso natural. Cravas-me as unhas nas costas, envolves as tuas pernas na minha cintura e agarras-me os cabelos, beijando-me num encaixe quase perfeito e ancestral. Sinto o teu peito roçar no meu peito, abraças-me forte e sinto bem de perto a bater o coração. Agora tudo faz sentido... A espera, a preocupação, eu, tu, o mundo. Perto de ti tudo faz sentido
Afasta-te um pouco e despes as meias num gesto demasiado sensual, levantas-te do sofá, deixas cair a saia e chamas por mim com um só dedo. Eu levanto-me e vou atrás de ti, tentas fugir como num jogo de inocente de criança, mas eu agarro-te pela mão, puxo-te para mim e descubro o teu corpo com as minhas mãos. Percorro as tuas curvas e fico perdido... Os teus lábios logo me trazem outra vez, para esse mundo que descubro seres para mim...
Vamos lentamente enrolados como numa dança em direcção ao quarto ainda escuro, iluminado apenas pelo fraco raiar do sol. Agarro-te as coxas das pernas e levanto o teu corpo, ando mais um pouco e sento-te sobre a mesa de madeira perto da porta, as molduras caem, os perfumes tropeçam e de repente empurras-me para a cama, caio inebriado a olhar para ti e voltas a sorrir-me, mordes novamente o lábio inferior, olhas para o lado e colocas a tua mão sobre um dos meus frascos de perfume... Desenroscas a tampa devagar enquanto me olhas com esse olhar malandro que aprendeste a fazer nesse teu ofício, derramas esse perfume pelo pescoço. Acompanho com deleite esse trilho que as gotas tomam para te percorrer... Vejo a tua pele arrebitar com o frio das gotas ou apenas de excitação... As gotas vão descendo até que começam a humedecer essa tua tanga de renda vermelha, levantas-te da mesa e começas numa lenta dança quente a tirá-la suavemente.

(Este texto encontra-se em construção, por conseguinte, a parte acima apresentada porderá sofrer alterações. Se quiser comente ou sugira alterações. obrigado pela disponibilidade.)