01/06/2009

Recriação do poema de Fernando Pessoa


“O menino da sua mãe”


Ficou no tempo perdido,
Num dia que a morna brisa aqueceu,
Cadáver pálido, entristecido –
No plaino de saudades esquecido –,
Onde morreu.

Derramou o sangue, o soldado,
Morreu sem o saber ninguém.
Em lágrimas de sangue apodrecido,
Alvo e louro e frio, esquecido,
Jaz nas terras de além.

No seu olhar, tenra a idade!
(Morreu. E a culpa é de quem?)
Deixem-lhe na alma a verdade;
No corpo, deixou-lhe a mãe saudade:
Chamou-o “O menino da sua mãe”.

Caiu-lhe da vazia algibeira
A infância, os sonhos e o destino;
Fê-los a mãe à cabeceira
Da vazia cama de madeira,
Onde já não dorme o menino.

De outra algibeira, caiu-lhe a infância rasgada,
Abandonada a perdida esperança,
Deixada esquecida e ornada
Entre vagas lembranças… Da velha criada
A quem morreu a criança.

Lá longe em casa, acreditou-se
Na suave prece,
– Voltou cedo, sim, voltou!
O menino que sua mãe nunca enterrou…
São assim as malhas que o Império tece!

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