04/07/2009

Poema de um ninguém com Paralisia Cerebral


Encerrado num corpo velho e já sem vida
Contam-se a horas minuciosamente
Vê-se a vida escoar por entre os dedos
Que não conseguem mexer.
As lágrimas que não caiem
E a dor;
Essa que é pura
Como a fé que já se perde…

A esperança torna-se vaga;
E vai sendo consumida pela batalha dos anos vazios
A vida passa como se fosse eternidade…
Ano sobre ano e tudo é estanque!

A raça humana tem dois extremos:
Nascer perfeito,
Ou nem sequer imaginar nascer!
Olhando de um casulo a que apelidamos de: corpo
Vemos quem nos ama,
Ser gasto pelo tempo incorruptível
E enquanto cuida de nós
Rasga no rosto um sorriso vago,
Enquanto nos olhos se cai a esperança.
A vaga esperança depositada
No gesto que demora em chegar…

Olhos nos olhos e lê-se o desespero sair!
Olhos nos olhos e lê-se o medo penetrar!
O sorriso perdura estampado,
Como um candeeiro que nunca apaga
Num universo longínquo e escuro...
O obrigado não sai e as palavras ressoam na cabeça:
“Os médicos dizem que um dia irás falar…”
Anseia-se a chegada dos dias seguintes;
Pois a memórias começa a falhar,
E esqueces que as batalhas são diárias;

Tic-tac, tic-tac…
E relógio passa os segundos com sabor a anos.
Tic-tac, tic-tac…
Cai a esperança com a mente.
Tic-tac, tic-tac…
E no dia de falar diz-se: Obrigado!
Tic-tac, tic-tac…
E o dia de morrer
Passa mais breve que a vida;
De quem vendo o relógio andar, sofreu parado…
Tic-tac, tic-tac, tic-tac…tic-tac!

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