25/05/2009

Há muito tempo que não te vejo…





Há muito tempo que não te vejo…
Desde o dia em não deixaste aquela carta
Em que dizes nunca ir embora
Como um dia prometemos um ao outro.
Mas ambos sabemos que as promessas
São vagas palavras enlaçadas no vento.
Onde estás meu amor?
Procuro por ti incansavelmente!
Procuro-te nos lugares em que nos amámos;
Os lugares que amámos,
E que nos amaram a nós.
Aqueles lugares que nos habituamos a ver
E que se habituaram a ver-nos a nós;
E ao pôr-do-sol e aos nossos beijos
E ao nosso amor jovial…
Procuro-te no banco do jardim de flores
Onde te vi pela primeira vez
Arrancando as tuas lágrimas de uma flor.
Era um malmequer com pétalas brancas
Parecia o sol que te raiava o cabelo.
Estavas tão bela e calma
Nessa manhã nublada em que o sol espreitava;
Mas com um olhar tão profundo e triste.
Como te poderia ficar indiferente?
Sento-me no triste banco onde não estás.
Está fria e molhada a madeira
É feita da minha alma e de memórias…

Foi nesse banco frio e triste,
Que vim apanhar a lágrima que deixaste no chão
Olhaste meigamente para mim e limpaste as lágrimas.
(Jamais esquecerei esse teu primeiro olhar!)
(Ainda hoje não o consigo decifrar)
(Tão profundo e doce)
(Tão belo e puro!)
Sorri para ti e deitei-te um beijo ao ar;
Achaste graça o meu jeito desajeitado
E contemplaste-me com um magnífico sorriso.
O primeiro de muitos que te roubei
E que depois te devolvi como sendo meus…
Nesse dia trocamos também a primeira palavra;
Ironicamente essa palavra foi um: – Porquê?
Contaste-me a tua história e logo respondi
“Ama quem deve ser amado!”
Dias depois encontrámo-nos nesse mesmo banco;
Debaixo do mesmo sol de sorriso aberto
Trocámos os primeiros olhares sem lágrimas
Por entre eles surgiram as primeiras carícias
Os primeiros abraços e gestos de silêncio,
E no silêncio fecharam-se as pálpebras;
Agarram-se as mãos,
Escaparam-se sentimentos por entre os olhos
E humedeceram-se os lábios um no outro
Selando um beijo que não era dado à séculos…

Vagueio na estrada de alcatrão à tua procura
Vem-me à memória as corridas que fazíamos
Parecíamos crianças brincando com a sua inocência!
Mas nós apenas brincávamos com o nosso amor:
E tão inocente e sem maldade era o nosso amor!
Surgiu na esquina o antigo prédio
Tão robusto mas tão cheio de memórias e amor
Fomos nós que lá deixámos as memórias e o amor.
Ainda estão gravadas na parede velha as nossas palavras:
“Amar-te-ei amanhã também, e todo o sempre”
Encosto-me à parede e abraço o vento;
Cerro os lábios por causa do frio.
Abraço mais forte e sinto os teus cabelos,
A tua respiração no meu peito,
E a tua testa sobre o meu queixo…
Olho o céu e a noite está clara;
Cheia de estrelas, e com uma lua parecida com o teu olhar
Como tu amavas as noites assim!
Como tu amavas a lua tua gémea!
Como tu amavas as brilhantes estrelas no céu negro!
(Como tu me amavas a mim nessas noites!)
E ficávamos assim até irmos embora,
Em longos longos silêncios
Nas longas longas noites de silêncio…

Quando partiste tu e me deixaste só
Desamparado e sem ninguém para abraçar
E falar em longos longos silêncios
Nas longas longas noites em que amavas?
Entro em casa.
O dia está chuvoso e frio
Assim como o espaço vazio que me deixaste no coração
Entro no quarto e não está lá ninguém;
Ainda me lembro daquele dia, também ele chuvoso
Em que de rompante entramos no meu quarto
E caímos na cama mole.
Depressa voaram as roupas para o chão,
Os beijos nus voaram pelos corpos
E passamos a longa longa noite
Em longos longos momentos loucos de silêncio…
Eu contemplei-te, tu contemplaste-me
Deixámos os caminhos incertos
E unimo-nos num só caminhar.
Foi nesse momento que descobri a razão do viver até agora.
Foi nesse dia que me achei homem finalmente.
Deixámos o mundo inteiro de lado
E decidimos viver o nosso próprio mundo…
Apenas eu!Apenas tu!
Apenas nós!
E o céu triste e sem estrelas
Fez aparecer as estrelas só para nós
E junto a um dos teu muitos sorrisos
Surgiu a lua por entre as nuvens
Eu, tu, nós;
A lua, as estrelas e um mundo inteiro só nosso!

Os lençóis ainda têm o teu cheiro!
A almofada ainda encerra o teu sorriso!
Parece que a cama ainda está quente,
Afinal ainda ontem cá estavas
Bem ao meu lado contagiando-me
Com esse teu longo longo sorriso de sol…
O vazio quarto, tu não estás!
O teu sorriso, os lençóis
O teu cheiro, a almofada
O teu cheiro, o teu corpo, o teu doce sorriso
Chove novamente!
A chuva cai, e as minhas lágrimas, e chuva cai…
A luz vai esvanecendo, os olhos divagando fechando, a luz apagando…
Um trovão!
Bate forte na cabeça e no coração
O inesperado trovão!
Acordo em sobresalto,
Não estás!
Um sussurro trás a tua voz ao meu ouvido
Gentil e meiga a tua voz!
“O que se passa amor?”
“Nada, apenas amar-te-ei amanhã também, e todo o sempre!
Nada mais se ouve agora para além da chuva…
As roupas no chão, os teus cabelos no peito
A tua respiração na minha cara,
Tudo está igual…
Nada mudou, tudo igual!
“Dorme meu amor,
Amanhã estarei do teu lado…”

E adormeci na certeza de estares ao meu lado…

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