28/05/2009

A maldição dos Mil mundos







Foste amaldiçoado
E tu sabe-lo!
Foste amaldiçoado no dia
Em que pela primeira vez
Fizeste a tua voz soar neste mundo
O dia em que inocentemente nasceste!

Cada vez que respiras
Sabes respirar uma maldição
Imperdoável…
Caminhas dentro de ti mesmo
Sobre esse doloroso fardo
De nunca seres tu próprio;
O fardo de ir vivendo os dias condenados;
Condenado e só!

Pintas o contorno da tua sombra
Numa fria parede branca
E pintas uma porta.
Beijas a sombra
E desfazes-te do teu corpo
Caminhas em ti mesmo
E em mil mundos.
Caminhas e transbordas
Portas e portas e portas
Tantas quanto o teu olhar alcança…
Deste-lhes o nome de mundos paralelos
Paralelos ao mundo metafísico
E ao mundo onde te abandonaste.
Onde um dia cresceste
Pensando ser “feliz”…

Metes as mãos à cabeça
E arrancas os sonhos
Um por um todos caem à tua frente
E apercebeste da tua crua realidade
A realidade de ser careca,
Neste mundo de espelhos
Mil e uma bocas riem-se de ti!
Caras sem feição…
As cabeças que ostentam as bocas
São feitas de folhas de papel.
Desenhos de caras surgem
São os que amas…
Os que sempre amaste riem-se de ti!

O peito bate forte,
O chão desaparece
E num grito de criança
Sobes ou cais ao vazio!
O infinito parece ainda mais incalculável.
A queda ou a subida,
(Porque estás no vazio)
Vão arrancando pedaços de ti
Mas sabes não ser tu!
O teu rosto está impresso
Numa folha de papel
E ostenta um sorriso!
Ris-te de ti próprio…
Do fracasso de nunca atingiste
Pois até o fracasso
Está além dos teus limites

O espelho parte-se ao longe
E uma balada soa na tua cabeça
Tambores rugem
Ao vento que não existe.
Os tambores do fim
Anunciam o inicio…
Ouves alguém chorar,
Vês a pedra fria
E tem o teu nome.
Um buraco…
Lamentas ser careca
E nunca teres tido sonhos
Para lamentar nesta derradeira hora…

A terra cai sobre ti
E ouves murmurar
São as vozes das recordações
Abres os olhos
E o vento finge bater-te na cara.
Tens cabelo mas já não és tu.
Estás debruçado
Tudo é escuro
Menos o monte de terra
Onde estás sentado…
Estás sentado sobre a terra
Que engoliu o teu corpo
Tens flores na campa…
São as flores
De quem agora te ama…

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